DEPOIS DE TANTO TEMPO

Estou concluindo a leitura de dois livros: 1- "O que estão fazendo com a igreja", de Augustus Nicodemus, e 2- "Por que você não quer mais ir à igreja?", de Wayne Jacobsen e Dave Coleman.
No primeiro, o autor oferece suas percepções sobre os rumos da igreja evangélica brasileira. Defende a fé bíblica conforme defendido pelo cristianismo histórico. Enumera as mazelas dos conservadores, fundamentalistas e neopuritanos.
O segundo, pode ser resumido em uma pergunta: Como é possível ser cristão há tanto tempo e, ainda assim, se sentir tão vazio dentro da igreja?
Depois de tanto tempo vivendo e ensinando a fé bíblica, constato uma triste realidade, os evangélcios buscaram tanto um espaço na televisão, mas não pediram líderes comprometidos com a palavra de Deus e com a salvação do pecador. Basta ter coragem e assistir com um pouco de atenção aos programas que mais parecem mercadores da fé alheia, para se constatar que a única preocupação é se aproveitar da falta de conhecimento do povo para fazer valer suas ideias mirabolantes. É possível ver de tudo. A Bíblia? Que Bíblia! Ela é apenas um detalhe. Um livro onde o sujeito não deve saber nem quantos livros têm, mas é treinado para procurar alguns textos fora do contexto para fazer valer suas verdadeiras intenções que vão desde vender bênção a produtos de péssima qualidade como livros, CD, DVD, etc. Sem contar a água do jordão, o óleo santo. Como foi produzido pelo bispo tal, apóstolo de tal, pode comprar que é batata. O carro novo, a casa nova, o emprego novo, tudo isso aparece. Creio que tudo isso Deus dá, mas dá sem pedir nada em troca. Sabe qual é a dura realidade? Boa parte dessa gente que está por aí fazendo chover bênção é produto das igrejas ou então resultado de laboratório.
Depois de tanto tempo acreditanto na instituição chamada igreja, comprovo cada vez mais que ela é invisível e está espalhada em toda a terra. Não está dentro de quatro paredes onde há exclusivismo, fanatismo, falcidade, hipocrisia e o mais grave de tudo - falta absoluta do amor pregado por Jesus.
"Igreja é uma palavra que identifica um local ou uma instituição. Ela descreve um povo e como os membros desse povo se relacionam uns com os outros."
"Jesus não fala da igreja como de um lugar aonde se vai, mas como um modo de viver na relação com Ele e com quem O segue."
A instituição chamada igreja, cria regras rígidas, leis, estatutos cuja preocupação principal é punir quem "abandona" seus princípios. Os que deixam de frequentar aquela igreja são rotulados como desviados da fé e pecadores. Se a igreja é algo que somos, e não um lugar qualquer a que comparecemos, como é possível abandoná-la, a não ser que abandonemos o próprio Cristo?
"A questão não é onde estamos num determinado momento do fim de semana, e sim como estamos vivendo com os outros fiéis ao longo da semana".
Jacobsen e Coleman sentetizam muito bem o retrato do cristianismo institucional: "Cansei de tentar estabelecer uma comunhão com gente que concebe "igreja" apenas como um lugar onde um grupo passa duas horas por semana expiando a culpa, enquanto vive o restante da semana com as mesmas prioridades mundanas. Cansei daqueles que exaltam as próprias obras piedosas, mas que não demonstram compaixão pelos outros. Cansei de gente insegura que usa o corpo de Cristo como extensão de seus egos e que manipula a comunidade para satisfazer as próprias necessidades. Cansei de sermões que contém mais regras e moralismo do que a liberdade do amor divino e nos quais os relacionamentos ficam em segundo plano perante os desmandos das instituições."
Faço minhas as palavras deles.
Depois de tanto tempo sem ter uma igreja para ir sistemáticamente para cumprir protocolo, vivo em comunhão com o meu Senhor. Ele continua falando comigo e Sua presença é constante em minha vida.
Tenho como mandamento orar pelas pessoas que me pedem e até por aquelas que não pedem.
Nada do que me fizeram no passado ou possam me fazer no presente, vai me separar do amor de Deus.
Depois de tanto tempo, Jesus continua o mesmo. Ele jamais muda. Sinto-O cada dia em minha vida.
Com Jesus, sempre.

Pr. Estível Ramos