quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O Grito do Cego e A Quebra do Protocolo

Luc. 18:35-43.
O homem é cego, pobre e está sozinho. O lugar onde ele está nos permite ver com os olhos que ele não tem. Ele estava sentado à beira do caminho pedindo esmolas. Assim é com os pobres, muitas vezes estão sozinhos. O cego percebeu pelo barulho da multidão que algo estranho estava acontecendo e perguntou sobre o assunto. A pessoa apenas responde: É Jesus que está passando em Jericó.
Então, às mãos estendidas seguem-se os gritos porque, para aquele cego, a informação de que Jesus estava passando por Jericó, respresentava um raio de luz, uma esperança. E ele começa a gritar: "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim." Ele grita na sua angústia e, ao mesmo tempo, na sua esperança. Este homem só conseguiria seu espaço no grito.
O grito do cego também traz a esperança de que, desta vez, algo vai acontecer em sua vida. O grito do cego é o grito de angústia e ao mesmo tempo de esperança. No entanto o grito do cego causava profundo incômodo. Os que iam na frente queriam que o cego se calasse porque seu grito não estava no protocolo. O protocolo serve para manter as coisas assim como estão., mantém os status quo. Quando o protocolo é imposto os cegos não gritam, não incomodam, mas também não chegam a rir.
o culto passou da hora? "Rompeu-se o protocolo. A irmã cortou o cabelo, o rapaz jogou bola, a mocidade bateu palmas? A turma do protocolo te pega, irmão.
O pastor demorou no sermão? A irmã falou língua? Houve profecia? Cuidado! A turma do protocolo entra em ação. Ela convoca reuniões, Estatutos, disciplina o lídera da mocidade, expulsa o universitário, bota um cabresto no pastor e a igreja volta à sua calmaria. Tudo continua igual e os bancos da igreja continuam vazios.
O triste com a turma do protocolo é que ela entende tudo de protocolo e nada de Bíblia. Anos se passam, e tudo continua como antes.
As coisas estão limpas. O piso da igreja brilhando. O som tinindo. Tudo funciona, tem horário para tudo, tem Atas, Estatutos, Regimentos, está tudo muito lindo, mas o cego continua sentado à beira da estrada com sua mão estendida e com seu grito engasgado no garganta. Graças Deus, Jesus acabou com aquilo. Abaixo o protocolo, porque o cego precisa ver. Abaixo o protocolo porque tem um grito no ar. "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim." O barulho da multidão não impede que Jesus ouça o grito do cego.
A agenda do protocolo não impede que Jesus tenha tempo para o cego. Jesus priorizou o grito das mães que trouxeram seus filhos para encontrá-lo; de perceber o grito de necessidade da mulher que queria apenas tocá-lo. A capacidade de perceber o grito de angústia, de Jairo, pela doença fatal da filha.
Esta é a nossa caminhada missionária - a percepção, a sensibilidade de ouvido que nos ajuda a perceber os gritos de angústia e de necessidade, ecoando nas beiras das ruas das nossas cidades.
Jesus tem com este cego um encontro tremendo e pergunta: "Que queres que eu te faça?" "Senhor, que eu torne a ver," disse o cego. "Recupera a tua vista. A tua fé te salvou."
O melhor e maior encontro é o encontro com Jesus, mesmo que seja na base do grito e quebrando o protocolo.

"O EVANGELHO MALTRAPILHO"

Tive o privilégio de receber como presente de um grande amigo, Pr. Saulo Gonçalves, este livro. "O Evangelho Maltrapilho" é daqules livros que nos faz quebrar todos os paradigmas do SER igreja. Dá vontade de ler numa sentada só e a cada parágrafo nos sentimos atingidos no fundo da alma pelo escritor Brennan Manning. De cara ele diz que o livro não foi escrito para os superespirituais. "Não é para os zelotes ardentes que se gabam com o jovem rico dos Evangelhos: "Guardo todos esses mandamentos desde a minha juventude."
Numa época em que a hipocrisia subiu aos púlpitos é hora de repensar não a fé, mas o papel das igrejas diante da sociedade. Ele afirma ainda: "O Evangelho maltrapilho é para os homens e mulheres pobres, fracos e pecaminosos com falhas hereditárias e talentos limitados."
Como estará o Mestre Jesus vendo tudo isso? De um lado, grupos que se denominam igreja moderna, contextualizada; do outro, os donos da verdade que ensinam que o caminho para o céu tem que passar por eles. Só se salva quem passa por lá. Uma meia duzia de donos de igrejas fazendo dos púlpitos um palanque político e da religião um meio de vida, enquanto milhões de pessoas morrem diariamente sem conhecer Jesus.
"A Igreja só é igreja quando o é para os de fora." (D.B.). Como diz Karl Barth de forma consciente: "A Comissão recebida pela igreja é sua própria vida e por isso a própria razão de ser da igreja depende de sua submissão à comissão dada por Cristo." Uma igreja que nega sua missão e assume outro papel, não é, na verdade, igreja.
Fico me perguntando se existe outro lugar onde há tanta gente ferida, magoada, triste, desconfiada como há na igreja? Você já pensou nisso? Igreja é lugar de cura, mas quantas pessoas que não se curam estão sentadas todos os cultos bem ali nos velhos bancos há anos.
Parece um paradoxo, mas vejo tanta gente que mesmo na igreja, procura ajuda psicológica e até psiquiátrica para curar os traumas adquiridos com profissionais fora da igreja. Vejo pastores que ministram cura para a igreja enquanto os próprios membros sabem que ele também está ferido, magoado, triste, precisando ser tratado. A despeito disso, Morton Kelsey escreveu: "A igreja não é um museu para santos, mas um hospital para pecadores." Deus não apenas me ama como eu sou, mas também me conhece como sou. Quanto mais pobre e necessitado somos, mais Deus se compadece de nós. Conta uma lenda que certo cristão ao orar pediu: ""Caríssimo Deus, tenho um único desejo na vida. Dá-me a graça de jamais ofender-te novamente." Ao que Deus respondeu: "É o que todos pedem. Mas se eu concedesse essa graça a todos, me diga, quem restaria para eu perdoar?"
Ficamos assustados quando lemos as estatísticas dando conta de que as prisões estão cheias de filhos de crentes. De pessoas que abandonaram a fé. Afirmam que 70% dos presidiários são ex-evangélicos. Assustador, não? Sim. O que está acontecendo com os "donos" de igreja? Os mesmos que se colocam acima do bem e do mal sempre prontos a acusar, condenar e caluniar? Bem, eles estão ocupados demais para cuidar dos feridos. A igreja tem se tornado como um Exército que abandona seus soldados feridos no campo de batalha. Pela graça de Deus, alguns conseguem se libertar, dão a volta por cima e percebem que o amor de Jesus é maior que a hipocrisia.
Brennan Manning conclui com essas inspiradoras palavras: "O futuro espiritual dos maltrapilhos consiste não em negar que somos pecadores, mas em aceitar essa verdade com clareza crescente, regozijando-nos no incrível anseio de Deus de nos resgatar a despeito de tudo."
Feliz é o homem que sabe como Paulo: "Que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus." Gl. 2:16.
Continuamos nossa caminhada certos de que nada nos separará do amor de Deus, como diz Paulo: "Nem a morte, nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem as potestades nem o presente, nem o porvir, nem a altura nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." Rm 8: 38-39.